terça-feira, 14 de maio de 2013


A FABULOSA OBRA DE DESCARTES GADELHA



"Descartes Gadelha (18 de junho de 1943, Fortaleza) é um pintordesenhistaescultor e músicoParticipou de importantes mostras coletivas, destacando-se “A Paisagem Cearense”, no MAUC/UFC (Fortaleza - CE 1963), “Pintores do Nordeste”, no Museu do Unhão (Salvador - BA, 1963), “Lirismo Brasileiro” (Tel-Aviv  ,Israel1965), “O Circo”, no Paço das Artes (São Paulo - SP, 1978) e “12 Artistas de Seis Países Latino-Americanos”, na Casa do Congresso de Angostura (Caracas –Venezuela,1982). 
Obteve prêmio no XIV Salão Municipal de Abril (Fortaleza - CE ,1964), no I e II Salões Nacionais de Artes Plásticas do Ceará e no 1º Salão de Artes Plásticas do BNB-Clube, todos em Fortaleza (CE), nas décadas de 70 e 80. 
Individualmente, realizou diversas exposições, destacando-se em importância: Galeria Goeldi(Rio de Janeiro - RJ 1966), Galeria Samambaia (São Paulo - SP 1968), Instituto Goethe(Salvador - BA ,1974) e as expressivas mostras “Catadores do Jangurussu”, no MAUC-UFC(Fortaleza - CE 1986), “De um Alguém para Outro Alguém”, também no MAUC-UFC (Fortaleza- CE 1990) e a mega-exposição “Cicatrizes Submersas” - com mais de 100 pinturas a óleo de média e grande dimensões, além de esculturas, cerâmicas, gravuras e desenhos, retratando a saga do beato Antônio Conselheiro nos sertões do Nordeste do Brasil e seu epílogo emCanudos -, realizada no Palácio da Abolição (Fortaleza - CE 1997) e posteriormente, em 1999, na reinauguração do Museu de Arte da UFC, local onde as obras se encontram, incorporadas ao acervo do museu por doação do próprio artista. 
Numa linguagem expressionistaDescartes Gadelha retrata em sua obra a cultura, areligiosidade e os problemas sociais comuns ao Ceará, sua terra natal, e ao Nordeste doBrasil.
Descartes se marca pela expressiva retratação dos sentimentos em rostos regionalizados, notadamente do povo nordestino. Hábil com as cores, harmônico e real na composição dos cenários, tanto nas séries das crianças com pipas ou dos catadores de lixo, quanto nas agruras dos infantes cheiradores de "cola". 
Descartes realiza profundo estudo historigráfico antes de iniciar suas séries, como na"Antônio Conselheiro" vista na sala especial que leva o nome do artista no MAUC - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, ou "Tropas de Pero Coelho", onde reproduz com riqueza a interação dos portugueses e dos silvícolas com as paisagens cearenses durante a Invasão Francesa que tomou o Maranhão chegando até a Serra da Ibiapaba , no Ceará.
A profundidade da alegria, da ingenuidade, da esperança, da melancolia, da angústia ou do escárnio da vida humana demonstra um singular talento de um artista que deixa claro o quão absorto fica quando da produção das suas obras." 

domingo, 12 de maio de 2013

Exposições coletivas


Exposições Coletivas

1962 - Fortaleza CE - Paisagem Cearense, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - Mauc
1963 - Salvador BA - Pintores do Nordeste, no Museu do Unhão
1963 - Fortaleza CE - Salão de Abril
1963 - Fortaleza CE - A Paisagem Cearense, no Mauc 
1965 - Fortaleza CE - 14º Salão de Abril - 1º lugar
1965 - Israel - Lirismo Brasileiro
1965 - Fortaleza CE - A Casa, na Galeria Pedro Jorge
1965 - Tel Aviv (Israel) - O Lirismo Plástico Brasileiro
1966 - São Paulo SP - O Sobrado, no Acervo de Artistas do Nordeste
1966 - São Paulo SP - Sob o Patrocínio de Cyma Guinberg, na Galeria Shultz
1966 - Fortaleza CE - 1º Varal de Artes Plásticas
1966 - Crato CE - 1ª Jornada Cultural pelo Cariri. O Mauc apresenta 15 Artistas Cearenses
1966 - Fortaleza CE - Coletiva, no Mauc
1966 - Fortaleza CE - 15º Salão de Abril
1967 - Fortaleza CE - Coletiva, na Galeria Raimundo Cela
1967 - Fortaleza CE - 1º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará - premiado
1967 - Fortaleza CE - 16º Salão de Abril - 1º lugar em pintura
1968 - Rio de Janeiro RJ - Pintores Cearenses, no Museu Nacional de Belas Artes
1968 - Fortaleza CE - 17º Salão de Abril
1969 - Fortaleza CE - 2º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará - premiado
1969 - Fortaleza CE - 18º Salão de Abril
1969 - Fortaleza CE - Coletiva, na Galeria do Clube Parlamentar Cearense
1969 - Fortaleza CE - Coletiva, na Galeria Permanente de Artes
1970 - Fortaleza CE - Coletiva, na Galeria Gauguin
1970 - Fortaleza CE - 19º Salão de Abril
1970 - Fortaleza CE - Coletiva, no Atelier Grupo
1970 - Fortaleza CE - Coletiva, no Ideal Clube
1971 - Fortaleza CE - Salão de Março, no Salão Antonio Bandeira
1971 - Fortaleza CE - 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará
1971 - Fortaleza CE - Coletiva, na Galeria Antonio Bandeira
1971 - Brasília DF - Coletiva de Pintores Cearenses em Brasília
1972 - Fortaleza CE - 5º Aniversário da Galeria Raimundo Cela, no Centro de Artes Visuais Raimundo Cela
1972 - Fortaleza CE - Mostra de Arte Jogos Universitários Brasil-Plástica/72
1972 - Rio de Janeiro RJ - Salão de Viena 
1972 - Fortaleza CE - Ressurge a Sociedade Cearense de Artes Plásticas, no Mauc 
1972 - Fortaleza CE - Coletiva, na Galeria Florinda
1972 - Fortaleza CE - Coletiva, no Clautenes Atelier
1972 - Fortaleza CE - Mostra de Arte Jogos Universitários Brasil-Plástica Região Ceará-Acre - Sesquicentenário da Independência do Brasil, no  Salão Antonio Bandeira
1973 - Fortaleza CE - Coletiva, na Centro de Artes Visuais Raimundo Cela
1973 - Fortaleza CE - 17 Artistas no Natal, no Mauc
1973 - Brasília DF - Mostra de Artes Olimpíadas do Exército
1974 - Fortaleza CE - 10º Congresso Nacional de Bancos, no Clube Líbano Brasileiro
1974 - Fortaleza CE - Colégio Militar de Fortaleza
1974 - Fortaleza CE - 1ª Feira de Arte, na Galeria Marina
1974 - Salvador BA - Coletiva, no Instituto Goethe
1974 - Fortaleza CE - Salão de Abril
1975 - Fortaleza CE - Centro de Turismo - Galeria Gardem
1975 - Rio de Janeiro RJ - 15º da Providência
1975 - Fortaleza CE - 1º Salão Histórico de Arte Cearense
1976 - Fortaleza CE - Os artistas em quadrados, no Colonial Praia Hotel
1977 - Teresina PI - Semana Cultural do Ceará no Piauí
1978 - São Paulo SP - O Circo, no Paço das Artes
1978 - Brasília DF - O Ceará em Brasília, na Casa do Ceará
1979 - Fortaleza CE - Coletiva, na Galeria Credimus
1980 - Fortaleza CE - Coletiva, no Centro de Artes Visuais Raimundo Cela
1980 - Fortaleza CE - Exposição de Arte Sacra Cearense e Mostra do Tema Migrações, no Centro de Turismo 
1981 - Fortaleza CE - 4 Artistas Cearenses mostram desenhos no Mauc, no Mauc
1982 - Fortaleza CE - Center Um
1982 - Caracas (Venezuela) - 12 Artistas de Seis Países Latino-Americanos
1983 - Fortaleza CE - Dom Quixote por 13 artistas brasileiros, no Mauc
1983 - Fortaleza CE - Figuração no Ceará, na Estação das Artes Parangaba 
1983 - Fortaleza CE - Circuito de Artes Plásticas da Região Nordeste, no Mauc
1984 - Fortaleza CE -  Coletiva Chabloz, na AABEC
1984 - Fortaleza CE - Coletiva, na Universidade de Fortaleza - Uniform
1984 - Fortaleza CE - Dois Tempos, no BNB Clube
1987 - Rio de Janeiro RJ - Do Ceará para o Oitanhangá, na Galena Debret
1990 - Alemanha - Catadores do Jangurussu
1990 - Fortaleza CE - Coletiva, no Clube dos Diretores Lojistas - CDL
1990 - Fortaleza CE - Círculo Militar de Fortaleza - Sociedade Amigos da Arte
1991 - Fortaleza CE - Nossa Arte em Paisagem, na Domini Galeria
1991 - Fortaleza CE - Coletiva, no Ideal Clube
1992 - Toulon (France) - Conferência Internacional de Arte Terapia. Arte Terapia, no Centre Hospitalier Specialisé de Pierre - FEU
1995 - Fortaleza CE - Grupo Iracema de Artes Plásticas
1995 - Fortaleza CE - Gravadores Cearenses D'après Albrech Durer, no Centro Cultural da Abolição
1996 - Fortaleza CE - Coletiva, na Marina Park Hotel
1996 - Fortaleza CE - Fortaleza em Traços Concretos, no Salão de Artes Mota Machado
1997 - Fortaleza CE - Grupo Iracema de Artes Plásticas
1997 - Fortaleza CE - Grupo Di Galla - 1º Salão de Artes Di Galla
1997 - Fortaleza CE - Prêmio CDL de Artes Plásticas
1998 - Fortaleza CE - 1º Prêmio Dragão do Mar
1999 - Fortaleza CE - Grupo Iracema de Artes Plásticas
1999 - Fortaleza CE - Coletiva, no Ideal Clube
1999 - Fortaleza CE - 1º Exposição Eletrônica de Artistas Plásticos Cearenses, no Naútico Atlético Cearense
2000 - Fortaleza CE - Coletiva, no Aeroporto Internacional Pinto Martins
2000 - Fortaleza CE - Exposição Comemorativa ao 41º Aniversário do Material Bélico - menção honrosa
2001 - Fortaleza CE - Retratos: Belchior visto por grandes nomes e por ele mesmo, no Centro Cultural Oboé
2001 - Sobral CE - Casa da Cultura - Salão de Abril em Sobral - Homenagem a Cândido Portinari
2002 - Fortaleza CE - 18ª Bienal Internacional do Livro. Cicatrizes Submersas, no Centro de Convenções
2002 - Fortaleza CE - Homenagem ao Mestre Zenon Barreto, no Centro Cultural do Abolição
2002 - Aquiraz CE - Coletiva, no Espaço Cultural Mercado das Artes
2003 - Fortaleza CE - Mostra Coletiva Acervo 2003, no Mauc
2003 - Rio de Janeiro RJ - Belchior: retratos e auto-retratos, no Centro Cultural da Justiça Federal
2004 - Fortaleza CE - Iracemas, Morenos e Cocacolas, no Mauc
2004 - Fortaleza CE - Heróis do Papelão, no Centro Cultural Oboé
2004 - São Paulo SP - Bienal de Arte Naif, no Sesc Piracicaba
2004 - Fortaleza CE - Quarta Cultural no Centro, no CDL

Exposições individuais


Exposições Individuais

1963 - Fortaleza CE - Individual, no Museu de Arte da Universidade do Ceará - Mauc
1965 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria Dicaura
1965 - Fortaleza CE - Individual, no Teatro José de Alencar
1966 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Goeldi
1966 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria Vila Rica
1968 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Samambaia
1970 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria de Arte do Ideal Clube
1971 - Itapipoca CE - Individual, na Galeria Imperatriz
1971 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria Portinari
1972 - Fortaleza CE - Individual, na Galeria Gauguin
1972 - Fortaleza CE - Feira da Amizade, Círculo Militar
1974 - Fortaleza CE - Individual, no Museu de Arte da UFCE
1974 - Salvador BA - Individual, no Instituto Cultural Brasil - Alemanha
1978 - Fortaleza CE - Individual, no Sinwal Arte Galeria
1979 - Fortaleza CE - São Francisco de Canindé, Devotos e Fé, no Ideal Clube
1980 - Fortaleza CE - Individual, no BNB Clube
1983 - Fortaleza CE - Paisagem do Interior, no BNB Clube
1983 - Fortaleza CE - O Santo, A Fé, O Homem - Canindé: Canaã Nordestina, no Mauc
1989 - Fortaleza CE - Catadores do Jangurussu, no Mauc
1991 - Fortaleza CE - De um Alguém para Outro Alguém, no Mauc
1991 - Fortaleza CE - De um Alguém para Outro Alguém, na Domini Galeria
1997 - Fortaleza CE - Cicatrizes Submersas, no Museu de Arte do Abolição
1998 - Fortaleza CE - Cicatrizes Submersas, no Mauc
1998 - Quixeramobim CE - Cicatrizes Submersas, no Memorial de Antonio Conselheiro
1999 - Fortaleza CE - 18º Congresso Nacional do Andes. Cicatrizes Submersas, no Ponta Mar Hotel
1999 - Bray-Dunes (França) - 10º Festival des Folklores du Monde
2000 - Hanover (Alemanha) - Expo 2000 - Feira Mundial de Hanover
2003 - Fortaleza CE - Iracemas, Morenos e Cocacolas, no Mauc

A invisibilidade dos seres e a miserabilidade humana: exorcizando os fantasmas sociais.


Domingo, 5 De Abril De 2009

Descartes Marques Gadelha

A invisibilidade dos seres 
e a miserabilidade humana: 
exorcizando os fantasmas sociais.


Isabelle Azevedo Ferreira

Uma profusão de cores salta aos olhos. Vão se misturando espontaneamente para dar tonalidade aos delírios que pulsam na mente do pintor, escultor, compositor e músico Descartes Marques Gadelha. Numa esquizofrenia artística, a arte dá forma aos fantasmas que só ele parece vê. Estão por todos os lugares: nas esquinas da cidade de Fortaleza, catando lixo ou submersos nas águas do açude que encobriu a antiga cidade de Canudos, na Bahia, o Cocorobó. 

Os primeiros fantasmas vistos por Descartes foram presente do pai, Diderot Gadelha, ao dar ao filho o livro Os Sertões, do escritor Euclides da Cunha. Como um portal, o livro era a passagem para o universo da Guerra de Canudos (1896-1897). Era ali, através da obra euclidiana, onde Descartes encontrava-se com uma Canudos que ele não conhecia, percorria a procissão comandada pelo beato Antônio Conselheiro ou observava a colheita e os festejos da antiga cidade. 

Trinta anos se passariam para que os espíritos fossem inteiramente exorcizados, resultando num grandioso trabalho de mais de cem pinturas, oitenta esculturas e algumas xilogravuras, com a exposição Cicatrizes Submersas (1997). Para se livrar de vez de toda a angústia que sofria com os fantasmas canudenses, o acervo foi doado para o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC).

Contudo, Descartes não abandou outros universos. Flanando pela Fortaleza das misérias, descobriu seres invisíveis do cotidiano. Os primeiros invisíveis foram descobertos ainda nas casas de prostituição, na década de sessenta. Na virada do século XXI, com romantismo deixado de lado, a prostituição ganha status de total mercantilização do corpo. Nas periferias da cidade, jovens e crianças oferecem o corpo em troca de dinheiro. 

O segundo momento percebido sobre a invisibilidade dos seres deu - se num rompante de paixão. Descartes queria pintar um pôr – do – sol. Claro! Quem não gostaria de ganhar o mais belo dos pores-do-sol? Mas, ao mudar a direção do olhar, tudo que avistou foi uma imensa população buscando no lixo o sustento do corpo. O sol parece que jamais havia nascido para aquelas pessoas. Um espetáculo onde não havia beleza, mas a vida estava instaurada. 

Tão logo, aquele senhor robusto, de tez serena, o “burguesão”, como ele gosta de se intitular, estava instalado no Jangurussu, convivendo e conhecendo de perto a realidade do lugar. Por quase dois anos, pintou tudo o que viu por lá.

Descartes encara a miserabilidade humana de frente ao atravessar a caverna e perceber que a luz daquele mundo é artificial. Tudo pode ser desfeito ao menor toque, como se caos estivesse pronto a ser estabelecido. Ao invés de fechar os olhos para os problemas, escancara-os numa tentativa de denunciar as chagas da cidade. 

O artista cria universos paralelos que se entrecruzam e dialogam entre si. A imagem, apesar de estática, ganha força e repercute no imaginário de cada um. A luta pela sobrevivência em Canudos, por exemplo, é a mesma luta existente no Jangurussu. Mudam-se apenas os personagens e os contextos sócio-históricos, mas a luta permanece. 

Quando os fantasmas não podem ser vistos, mas apenas ouvidos, é na música que Descartes os exorciza. A voz grave, porém serena, entoa cânticos de homenagem aos orixás. No carnaval, as reverências aos santos afros vêm na forma de Loas, música típica do Maracatu. 

Não se sabe ao certo se a arte designou Descartes Marques Gadelha para o mundo ou se o mundo o designou para a arte. O fato é que o artista faz da arte um universo paralelo. Olhos e ouvidos são treinados para perceber os fantasmas e, tão logo, exorcizá-los.

*Perfil escrito para a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso. A Entrevista com Descartes Gadelha será prublicada na Revista Entrevista N°21, uma publicação do sétimo e sexto semestres do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC).


Fonte:http://isabelleazevedo.blogspot.com.br/2009/04/descartes-marques-gadelha.html

Uma matéria sensacional.

Um dos mais completos artistas plásticos contemporâneos, Descartes Gadelha, está às voltas com o lançamento do livro infantil "Lenda Estrela Brilhante". Simples e despretensiosa como seu autor, a publicação, premiada no Edital Pontinhos de Cultura da SecultFor, e realizada pela Associação Cultural Solidariedade e Arte (Solar), deu a deixa para o Caderno 3 fazer uma visita ao artista que, há mais de 10 anos, luta bravamente para conviver com o câncer
Foi em uma manhã chuvosa, que o escultor, pintor, escritor, desenhista, músico e nautimodelista, Descartes Gadelha, abriu as portas de seu casarão, que fica ali nas proximidades do Benfica, para receber o Caderno 3.

O mote da conversa foi o lançamento de mais um livro infantil, "Lenda Estrela Brilhante", que narra um pouco da infância desse artista cearense que vem escrevendo o lado feliz da história carnavalesca de Fortaleza.

Judiado por diversos cânceres que não cansam de tirar seu sossego, e que estão impedindo Descartes de exercer uma de suas mais notáveis vocações, a pintura, o artista não se deixa abater.

"Hoje, o mais brincante do Maracatu Solar sou eu. E se o câncer permitisse, eu desfilava em todos os Maracatus. O diabo é que o câncer é danado, mas eu chacoalho ele também. Porque o câncer quer agrado, quer que a gente sofra. Como eu não ligo, e como a brincadeira que está dentro de mim é intensa, a doença, coitada, fica desmoralizada", diz o artista, transbordando de bom humor.

Ao lado da esposa Verônica, dos filhos, Isabel e Leonardo, e dos netos, o filho mais velho das nove crias de seu Diderot e dona Geórgia, nascido e criado no Centro de Fortaleza, aos 67 anos, luta bravamente a favor do tempo. Hoje, a maior parte de sua vida é dedicada às réplicas de barcos à vela, que se espraiam por diversos cômodos da casa.

Nessa entrevista, Descartes partilhou experiências peculiares, dentre elas, o período em que morou no lixão do Jangurussu, no início dos anos 80, das longas e variadas épocas que passou em cabarés, e compartilhou a espiritualidade que vem entrelaçada à longa trajetória de fazeres e saberes que emanam de sua arte.

"Somos responsáveis por aquilo que conquistamos, bem ou mal. Já que não tenho capacidade de amar e fazer o bem, quero fazer o menos mal possível. Minha vida tem sido assim. Entendo que o egoísmo é a manifestação mais poderosa da falta de amor. O amor é tão humilde, tão grandioso, que você não percebe que ele está sendo processado. O egoísmo, ao contrário do amor, é pomposo, poderoso. E não tem como as pessoas escaparem da cobrança desse desequilíbrio", diz o Griô.

"Mas Deus é tão bom, a natureza é tão pródiga, que entende as pessoas que não atingiram a compreensão da vida, seu significado. Nós, como todos os seres vivos, nascemos para amar. Hoje, é só nisso que eu acredito". Saravá, Descartes!

NATERCIA ROCHA REPÓRTER
fonte:http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=958047